sexta-feira, 25 de maio de 2012

Tons de cinza vezes as gotas de chuva

Os pingos da chuva. É triste observar uma gota morrer no chão. Antes ela encerrar sua existência em meu rosto, pois assim continuaria viva... Sua vida estaria presente em uma sensação. Uma sensação de liberdade. É como se ela, a chuva, descesse gritando que é livre. Mas ela não é. Assim como as estrelas, ou como os tons de cinza, ela simplesmente segue rumos predestinados pelo Senhor da Física. Não podem escolher, não podem sentir ou pensar sobre as suas próprias condições. A elas (as estrelas, os pingos da chuva e até mesmo os tons de cinza) não foi permitido nada disto.
Mas o que somos nós perante tudo isso?
O que somos embaixo das estrelas? Embaixo dos tons de cinza no céu? Embaixo da chuva?
Simplesmente estamos “embaixo” de tudo isso. Mas a nós, foi dada uma coisa que eles não possuem: A capacidade de escolher. Escolher tudo que queremos e desejamos. E as capacidades de escolhas são muitas. Podemos resumi-la em uma equação matemática simples: Os tons de cinza de hoje vezes as gotas de chuva de ontem.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Interior

Juntaram todos os seus sonhos e os colocaram em uma bolsa de viagem. E as bolsas vieram segurando firmemente com as mãos, pois seus sonhos pesavam.
Quando encostam suas bolsas no chão, ao lado de seus pés, as marcas das alças ainda permanecem em suas mãos, vermelhas. Mas isso parece nem os incomodar.
Os olhos, negros, buscam um lugar para repousar, ou apenas admirar. Esses mesmos olhos trazem memórias de vidas nada fáceis.
Penso que depois de um tempo, trabalhando ou ainda caminhando, procurando um lugar para poder simplesmente viver sossegado, tranquilo, ter uma vida pacata igual tinha no interior, aqueles mesmos olhos estarão secos como uma pedra, e suas mãos, as mesmas que seguravam e levavam seus sonhos, quebradas.

Observando...

Inclinam as cabeças para os próprios pés, e movem suas mãos para trabalhar. As mesmas mãos que fazem carinho nos filhos.
Eles olham para os próprios pés, e suas bocas estremecem. Só lhes restam recordações.
Recordações de um mundo sem sol nem chão.
Saudade...

Nuvens

Mas não eram nuvens, era apenas chuva. Chuva com fome de existência. Existência presente no breve espaço de tempo de uma gota indo de encontro ao chão. Fome de existência. Talvez fome de consistência, para poder continuar... Viva. Saber que morreu e continuar viva para esterilizar os passos... Os passos dos transeuntes, ou até mesmo os passos do vento, que procura entre cada intervalo de uma gota caindo, um motivo para existir entre a chuva que vem de nuvens, que talvez nem sejam nuvens.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Hiperfluidez

São tantas coisas pra ler
tantas palavras pra descobrir
tantos personagens para nascer
tantos lugares para explorar
tantas vidas para criar
e para acabar...
Mas são tantos e tantas...

E assim vamos nós
somos nós,
queremos nós,
desejamos nós,
damos nós,
amarramos, prendemos, penduramos, enforcamos...
matamos.

A língua,
a poesia,
a frase,
a palavra,
o ponto ponto damos pontos
queremos tudo pronto...

Mas ainda assim entramos em trens, cheios de Se's
e E's...
Se pudesse, se fosse, se quisesse
E pudesse, e fosse, e quisesse
querer poder quero eu querer
eu, seu, teu...
eu meu meu eu seu eu...
eu!